
Filmes de Syberberg, Radu Jude, Andrei Ujică e Harmony Korine num Doclisboa dedicado a Augusto M. Seabra e assente em todos os Riscos
Já é conhecida a programação do Doclisboa 2024, que decorre entre 17 e 27 de Outubro nas salas habituais do festival: Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa, Cinema Ideal e agora também na Casa do Comum do Bairro Alto. Ao todo, a 22ª edição mostra 183 filmes de 55 países, entre eles 28 estreias mundiais, 19 estreias internacionais e 30 filmes portugueses, que juntos compõem um retrato da contemporaneidade, do humano e daquilo que o rodeia, apaixona e atormenta. Mais de 160 convidados visitarão Lisboa em Outubro.
A Competição Internacional deste ano conta com 12 filmes do mesmo número de países e inclui cinco estreias mundiais, seis estreias internacionais, uma estreia europeia e uma primeira obra. Na Competição Portuguesa há dez obras a concurso: quatro estreias mundiais, uma estreia europeia, cinco estreias portuguesas e três primeiras obras (ver lista de filmes abaixo).

Aggro Dr1ft de Harmony Korine
A secção Riscos volta a apresentar os últimos filmes de grandes inventores de cinema como Andrei Ujică, Hans-Jürgen Syberberg, Radu Jude e Harmony Korine. O realizador convidado deste ano é o francês Pierre Creton (Go, Toto!, 7 Walks with Mark Brown), numa programação que deambula entre a relação com o mundo natural que convocam os filmes deste cineasta-agricultor de grande sensibilidade, ele próprio retratado noutro filme desta secção, I Am Pierre Creton, Normand and Filmmaker, de Dominique Auvray; e os mundos virtuais e distópicos dos trabalhos de Phil Solomon (Still Raining, Still Dreaming, Rehearsals from Retirement) que transforma as paisagens do jogo Grand Theft Auto ou de Korine e Aggro Dr1ft, peça de grande inventiva formal que é também um conto de violência e redenção à maneira de uma sala de jogos multiplayer.
Os Riscos levam-nos à fixação de Andrei Ujică pela viagem dos Beatles a Nova Iorque em 1965 e a perplexidade perante a paisagem social americana, passada e presente, em TWST — Things We Said Today; e pela inventiva habitual do cinema Radu Jude, desta feita em Eight Postcards From Utopia, filme-montagem que colige material de anúncios publicitários pós-socialistas na Roménia. O Doclisboa apresenta também em estreia internacional o novo filme de um nome incontornável do cinema europeu: Hans-Jürgen Syberberg regressa três décadas depois do seu último trabalho com Demmin Cantos, filme sobre Demmin, cidade do nordeste da Alemanha onde o realizador nasceu e que foi palco de um dos maiores suicídios em massa no pós-Segunda Guerra Mundial. Do octogenário Syberberg, autor entre muitos outros de Hitler: A Film from Germany (1977) e que marcará presença no Doclisboa, o festival mostra ainda Ludwig. Requiem for a Virgin King (1972), integrado na retrospectiva Back to the Future, com curadoria de Jean-Pierre Rehm.

No ano do desaparecimento de alguém fundamental para a história do Doclisboa e em particular da secção Riscos, Augusto M. Seabra, o festival dedica-lhe esta edição e exibe um dos primeiros filmes por si programados para os Riscos: Compilations, 12 instants d’amour non partagé, de Frank Beauvais, obra onde convivem pequenos gestos de amor e música. A sessão, nomeada Exórdio, está agendada para 20 de Outubro, às 15h30, na Culturgest, e terá entrada gratuita mediante levantamento de bilhete no próprio dia. Um realizador cuja filmografia apresentada no Doclisboa está intimamente ligada a Augusto M. Seabra é Daniel Hui, que mais uma vez regressa ao festival para apresentar o seu novo trabalho: Small Hours of the Night, filme interior e obscuro sobre a Singapura dos anos 1960 e os seus fantasmas políticos. O filme de Hui tem contornos beckettianos, em linha directa com outro da programação: If I Fall, Don’t Pick Me Up, de Declan Clarke, que explora a correspondência de década e meia entre Samuel Beckett e o encenador Walter. D Asmus.
Da secção Da Terra à Lua, foram destacadas duas cópias restauradas: Um é Pouco, Dois é Bom (1970), filme de Odion Lopes, pioneiro do cinema negro; e El Castillo de la Pureza, do mexicano Arturo Ripstein, além de Lázaro at Night, de Nicolás Pereda, onde o cineasta contemporâneo explora novas formas narrativas.
A secção competitiva Verdes Anos ocupa um lugar especial na programação do Doclisboa, revelando novos talentos. O Nebulae, espaço de indústria do festival, apresenta Espanha como país convidado e o projecto educativo abcDoc aposta mais uma vez na força do documentário como ferramenta pedagógica.

A conferência de imprensa do Doclisboa 2024 decorreu esta manhã na Culturgest e contou com a presença de Paula Astorga (Directora do Doclisboa), Mark Deputter (Presidente do Conselho Directivo – Culturgest), Laurentina Pereira (Directora Municipal da Cultura – CML), e Rui Machado (Director da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema), e dos programadores do Doclisboa Justin Jaeckle (Programador Associado e secção Riscos) e Luca D’Introno (Programador secções Heart Beat e Verdes Anos). Participou ainda na sessão Luciana Fina, realizadora de Sempre, filme de abertura da edição deste ano.
Todos os detalhes da programação, júris, secções competitivas e prémios estão já disponíveis em doclisboa.org.
As bilheteiras físicas da Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal, e as bilheteiras online Blueticket e Ticketline, abrem a 3 de Outubro.